A crescente substituição do AISI 304 por ligas Cr-Mn não normatizadas na indústria alimentícia tem levantado questionamentos importantes sobre segurança e desempenho. Essa substituição ocorre, em grande parte, devido aos sucessivos aumentos no preço do níquel, o que estimula a busca por alternativas mais econômicas.
Essas ligas pertencem à série 200 dos aços inoxidáveis austeníticos, onde o níquel — elemento tradicional nas ligas da série 300 como o AISI 304 — é parcialmente substituído por manganês e nitrogênio. Embora existam ligas normatizadas nessa série, como o AISI 201 e 202, o que preocupa é o uso indiscriminado de ligas Cr-Mn que não seguem nenhuma norma técnica reconhecida.
Muitas vezes, essas ligas são comercializadas como “aço 201” ou “aço 200”, sem que suas composições químicas estejam dentro dos padrões esperados. Isso resulta em materiais com baixa rastreabilidade, desempenho variável e maior risco de falhas, especialmente quando expostos a ambientes agressivos como os da indústria alimentícia.
Um estudo recente publicado na biblioteca da ABINOX demonstrou, por meio de ensaios com simulador alimentar ácido e análise por espectrometria de absorção atômica, que uma dessas ligas Cr-Mn não normatizadas da série 200 apresentou taxas de corrosão até 6 vezes maiores e liberação de íons metálicos 40 vezes superior ao AISI 304, ultrapassando os limites estabelecidos pelo protocolo europeu COE.
É urgente disseminar o conhecimento técnico sobre essas ligas alternativas. A indústria precisa compreender que nem todo aço “200” é seguro ou equivalente ao 304. Promover a rastreabilidade, exigir certificações confiáveis e realizar análises laboratoriais é o primeiro passo para garantir segurança e durabilidade.