A escalada da importação de aço a preços considerados predatórios vem pressionando a indústria siderúrgica nacional e acendendo um alerta vermelho sobre a competitividade do setor. A avaliação foi feita por Everton Guimarães Negresiolo, CEO da ArcelorMittal Aços Longos LATAM, em entrevista ao EM Minas, programa da TV Alterosa em parceria com o jornal Estado de Minas e o portal UAI.
Segundo o executivo, o Brasil enfrenta uma verdadeira “competição desleal”, impulsionada principalmente pelas exportações chinesas, que chegam ao país com preços até 50% abaixo do custo de produção, caracterizando dumping. Dados do Instituto Aço Brasil, citados por Negresiolo, mostram que o volume importado dobrou, saltando da média histórica de 2,5 a 3 milhões de toneladas para cerca de 6 milhões de toneladas somente neste ano.
Pouco lembrado pelo público em geral, mas relevante para o contexto do mercado, é o fato de que a Aperam South America também integra o grupo Mittal, o mesmo conglomerado global que controla a ArcelorMittal. Isso significa que parte significativa da produção de aços inoxidáveis, elétricos e especiais no Brasil está inserida sob a mesma holding internacional,
Ao analisar o cenário global, Negresiolo afirmou que países como Estados Unidos, União Europeia e diversos vizinhos latino-americanos já adotaram tarifas de até 50% para equilibrar a competição com o aço vindo da China.
No Brasil, porém, o mecanismo de cotas e tarifas implementado há dois anos foi insuficiente: abrange poucos produtos, oferece margens amplas aos exportadores asiáticos e estabelece taxas menores que as praticadas internacionalmente.
“O que pedimos não é protecionismo”, reforçou o CEO, “mas um campo de jogo equilibrado”. Ele acrescenta que o futuro ciclo de investimentos da empresa, estimado entre R$ 10 e R$ 12 bilhões, está temporariamente suspenso até que haja maior segurança regulatória e comercial no país.

Embora o debate gire em torno dos aços longos e planos, o setor de aço inoxidável também sente os impactos da distorção de mercado:
A manutenção de um sistema siderúrgico forte é vital para segmentos como construção civil, infraestrutura, energia, equipamentos médicos, alimentos, laboratórios e, claro, para toda a indústria que utiliza inox.
A concorrência internacional é saudável, necessária e parte natural de qualquer economia aberta. O que está em debate não é a presença do aço estrangeiro no Brasil, mas a forma desigual com que essa disputa tem ocorrido.
Enquanto a siderurgia nacional opera sob regras rígidas de tributação, legislação ambiental e custos trabalhistas, parte do aço importado chega ao país sustentado por subsídios governamentais, financiamento artificialmente barato e padrões ambientais mais flexíveis, criando um cenário em que o competidor externo joga com vantagens estruturais que o produtor brasileiro não possui. É uma questão complexa para discussão, mas necessária.
Fonte: Estado de Minas (https://www.em.com.br/politica/2025/11/amp/7303262-ceo-da-arcelormittal-a-importacao-predatoria-de-aco-no-brasil-cresceu.html).