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O mito do “inoxidável”

A expressão “aço inoxidável” cria uma ideia equivocada desde o nome. Quando falamos em inox, muitas pessoas — incluindo profissionais da indústria — ainda acreditam que esse material não corrói jamais, como se fosse imune e indestrutível. Porém, a verdade é simples: todo aço inoxidável pode corroer. A diferença está em quanto, como e em quais condições isso acontece.

A resistência do inox à corrosão se deve à presença de cromo na liga, que reage com o oxigênio do ambiente e forma uma película extremamente fina e protetora chamada camada passiva. Essa camada impede a progressão da oxidação e ainda é autoprotectora: caso seja levemente danificada, ela se regenera espontaneamente. Entretanto, como todo escudo, ela possui vulnerabilidades.

Essa proteção pode ser destruída por fatores muito comuns na indústria, como a presença de cloretos em alimentos e produtos de limpeza, falta de oxigenação em frestas e pontos de acúmulo, acabamentos inadequados ou escolha incorreta de materiais para ambientes agressivos. Em todos esses cenários, o inox pode sim apresentar corrosão localizada, como pite, ou até contaminação do alimento.

O grande problema é que o mito do “não enferruja” leva a decisões técnicas ruins: uso de ligas inadequadas, ausência de tratamentos de passivação, falta de controle de qualidade e, principalmente, escolhas baseadas apenas em custo, ignorando normas e protocolos sanitários. Quando a corrosão aparece, os danos já estão instalados — com risco à segurança alimentar e altos prejuízos operacionais.

É fundamental reforçar que não existe um único inox para todas as aplicações. Ligas como AISI 304 e 316 são padrões reconhecidos para a indústria de alimentos, enquanto o 430 tem uso mais restrito. A série 200 normatizada (como 201 e 202) pode ser alternativa em alguns casos, desde que devidamente certificada. Já ligas Cr-Mn não normatizadas representam risco justamente por não haver garantia de composição e desempenho.

Portanto, o inox não é imune — o inox é inteligente. Ele exige uma escolha igualmente inteligente: a correta especificação técnica para cada cenário, garantindo higiene, durabilidade e segurança.

A camada passiva pode ser destruída por:

AgressorOnde aconteceConsequências
Cloretos (sal, produtos de limpeza, alimentos ácidos)Indústria de bebidas, laticínios, cozinhas industriaisPite, cavidades, contaminação de alimentos
Falta de oxigênioDepósitos, frestas, soldas mal acabadasCorrosão por fresta/ intergranular
Superfícies mal acabadasLixamentos grosseiros, microtrincasTravas de sujeira e ataque localizado
Materiais errados em ambientes errados“304 serve para tudo!”Falhas prematuras e riscos sanitários
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