Do laboratório à planta industrial: como testar e certificar inox para contato alimentar

Na indústria de alimentos, nem todo aço inoxidável é igual. Apesar de sua fama de “material seguro”, a verdadeira garantia de que um inox pode estar em contato com alimentos vem de um processo estruturado que começa no laboratório e termina na planta industrial — e que passa, obrigatoriamente, por normas, ensaios e certificações.

O ponto de partida são os requisitos legais. No Brasil, a RDC nº 20/2024 da ANVISA define a lista positiva de ligas metálicas permitidas em contato com alimentos. No Mercosul, a Resolução GMC 46/06 traz requisitos semelhantes. Já na Europa, o protocolo do Conselho da Europa (COE), além da composição química, avalia a migração de metais para o alimento, utilizando simulantes como ácido cítrico.

No laboratório, os ensaios simulam condições reais de uso. Testes de perda de massa (ASTM G31) e análise de liberação de íons metálicos por espectrometria (FAAS ou ICP-OES) permitem verificar se o aço mantém integridade e se os metais liberados estão abaixo dos limites permitidos. A relação entre área superficial exposta e o volume de simulante é fator crítico — condições mais severas podem revelar problemas que passariam despercebidos em análises brandas.

Na prática, exemplos não faltam:

  • Um tanque de suco de uva fabricado em liga Cr-Mn não normatizada pode liberar ferro e manganês acima do limite permitido, alterando o sabor e trazendo riscos à saúde.
  • Tubulações de leite em aço fora de especificação podem sofrer corrosão localizada em pontos de solda, comprometendo a higiene do processo.
  • Em equipamentos de envase de cerveja, o uso de aço não certificado pode levar à contaminação do produto final e até a recall de lotes inteiros.

Mas o trabalho não termina no laboratório. Na planta industrial, a escolha do inox precisa estar alinhada com os resultados obtidos, garantindo rastreabilidade de lotes, conferência da composição química e uso de fornecedores confiáveis. É perigoso confiar apenas em laudos emitidos por fabricantes, pois muitas vezes eles não refletem as condições reais de uso ou podem até mesmo se referir a ligas diferentes daquelas efetivamente entregues. Medidas como a aplicação de gel decapante na chegada da matéria-prima ajudam a identificar se a liga pertence à série 300, evitando substituições indevidas por ligas de menor desempenho.

Testar e certificar inox para contato alimentar não é burocracia. É um investimento em segurança, durabilidade e credibilidade. Afinal, no setor de alimentos, a confiança do consumidor começa pelo material que não pode aparecer no prato: o aço inoxidável.