Se grudou no ímã, não é inox? A lenda urbana da geladeira

Na internet todo mundo é especialista: tem o engenheiro de WhatsApp, o nutricionista do grupo da família e, claro, o metalurgista de geladeira. Basta encostar um imã e pronto: diagnóstico fechado. Se grudou, não é inox. Se não grudou, é inox puro. Mas será que a ciência do aço inoxidável se resume a um teste de R$ 2,99 comprado na lojinha da esquina?

O teste do ímã: mito ou verdade?

O problema é que essa ideia persiste. Certamente, 100% do público que trabalha com o inox, sofre por esse problema.

Esses tempos, recebemos um comentário: Podem falar o que quiser, colocar o nome que desejar nas ligas, mas a regra é clara, independente dos nomes se você precisa de um material que não vá enferrujar ele não deve grudar nem um pouco no imã. Só isso, o resto marketing para vender gato por lebre (SIC).

É quase poético. Só faltou pedir a assinatura em cartório. Mas lá vamos nós… mais uma vez:

O teste do ímã é um clássico da cultura popular, quase como bater na melancia para saber se está boa. Funciona em alguns casos, mas não é confiável para definir se o material é ou não aço inoxidável.

Isso acontece porque existem diferentes famílias de aços inoxidáveis. Os ferríticos grudam no ímã, e nem por isso deixam de ser inox. Os martensíticos também são magnéticos e igualmente resistentes. Já os austeníticos, como os populares 304 e 316, em geral não atraem o ímã, mas podem sim apresentar magnetismo depois de processos como dobra, solda ou conformação. Ou seja: em maior ou menor grau, qualquer inox pode “grudar” no ímã.

Se a regra fosse realmente tão simples, bastaria aposentar todos os laboratórios de ensaio de corrosão do mundo e substituí-los por uma caixa de ímãs de geladeira. Não precisaríamos mais de normas como ABNT, ASTM ou ISO, nem de análises químicas complexas, muito menos de engenheiros e metalurgistas. A ciência seria resumida a um teste caseiro: encostou, grudou, não é inox. Imagina só: décadas de pesquisa e tecnologia trocadas por lembrancinhas magnéticas

O mito do “ímã ou não ímã” é como chiclete velho: insiste em grudar. Mas conhecimento técnico é o que realmente separa fato de ficção.

É justamente para desfazer esses mitos, esclarecer dúvidas e trazer informação de qualidade que o Papo de Inox se posiciona. Nosso compromisso é traduzir a linguagem técnica em conhecimento acessível, sempre com seriedade, mas também com humor – porque, convenhamos, até na metalurgia dá para rir um pouco.