O Brasil ainda não conhece o inox. E parece não estar com tanta pressa assim

Os números relacionados ao inox no Brasil dançam. Um trimestre o consumo interno sobe 37%, no outro as exportações caem 80%, e todo mundo corre para analisar gráficos como se estivesse lendo sinais de uma revolução. Mas a verdade nua, crua – e inoxidável – é que o Brasil ainda está engatinhando no uso inteligente do inox. E pior: parece estar confortável nessa marcha lenta.

Enquanto países como Alemanha, Japão e até México tratam o inox como um insumo essencial – presente da maçaneta à mesa cirúrgica – por aqui ele ainda é visto, muitas vezes, como “refinado demais”, “caro demais” ou “desnecessário demais”. Como se durabilidade, higiene e sustentabilidade fossem luxos. E não pré-requisitos.

A gente se emociona com 70 mil toneladas vendidas no mercado interno. Mas ignora que o consumo per capita de inox no Brasil ainda é pífio se comparado aos grandes players globais. Sim, o brasileiro consome menos de 3 kg por ano, enquanto países desenvolvidos ultrapassam os 15 kg com folga.

Na prática, continuamos vendo cozinhas industriais forradas com compensado pintado, brigando com ferrugem como se fosse parte do processo. E quando aparece um fornecedor nacional com projeto inovador, com entrega rápida e produto à pronta-entrega, o cliente responde: “É muito caro”, se é que quer continuar a conversa depois de ouvir falar de inox.

A verdade é que o inox é um compromisso com a durabilidade. E talvez seja justamente isso que incomode tanto: o inox não é descartável, e nós ainda somos viciados no que se joga fora.

O Brasil precisa, urgentemente, se olhar no espelho de aço inoxidável. Não apenas para ver o próprio reflexo, mas para perceber o quanto ainda está distante de uma relação madura com um dos materiais mais versáteis, eficientes e sustentáveis que a indústria já conheceu.

O problema não é falta de capacidade produtiva. O problema é cultural. É uma mentalidade que ainda trata o inox como artigo de luxo, quando na verdade ele deveria ser tratado como item básico de qualquer projeto minimamente sério.

Portanto, sim: o Brasil ainda não conhece o inox. E se não mudar a forma de pensar, vai continuar achando que ferrugem é só um problema estético.

É preciso fomentar o mercado com seriedade, com informação, com exemplos reais de aplicação e resultado. É preciso unir indústria, fornecedores, especificadores e formadores de opinião para romper esse ciclo de ignorância revestida de costume. Porque o inox não precisa se provar.

E isso só vai acontecer quando todos remarem na mesma direção.