Profissional relata caso de fraude em inox e alerta para riscos do uso de aços fora de norma

Em 2020, durante uma visita técnica a um cliente no Nordeste, o engenheiro Leonardo de Vargas, profissional do setor de materiais vivenciou um caso que exemplifica os riscos da utilização de ligas não normatizadas no mercado brasileiro. O episódio foi compartilhado em relato exclusivo ao Papo de Inox.

Na ocasião, o cliente demonstrava grande preocupação com a qualidade do aço disponível no país. Embora tivesse definido o uso do AISI 304 em uma nova linha de envase, o produto estava apresentando diversos pontos de corrosão, mesmo não se tratando de um ambiente de alta agressividade

Durante a análise visual, chamou a atenção o fato de a chapa do pedestal permanecer íntegra, sem sinais de ferrugem, ao contrário do restante da estrutura. Ao ser questionado, o cliente informou que a chapa fazia parte da montagem original e não havia sido substituída. Diante disso, foi solicitada uma análise comparativa entre os dois materiais.

O resultado do ensaio laboratorial foi revelador: a chapa era realmente AISI 304, conforme previsto no projeto. Já o tubo do pedestal, comprado como AISI 201 e acompanhado de laudo de fornecimento, não correspondia ao material declarado. A composição química indicou teores de cromo e níquel inferiores aos mínimos exigidos, mostrando que o produto não atendia a nenhuma norma técnica existente.

Na prática, tratava-se de um aço Cr-Mn não normatizado, vendido como se fosse inoxidável da série 200. Esse detalhe explicava os pontos de corrosão precoce e a rápida deterioração da linha.

O episódio ilustra um problema já apontado por especialistas: a presença cada vez mais comum de materiais de baixo custo e fora de especificação, comercializados como equivalentes ao inox tradicional. Esses aços, além de não atenderem às normas internacionais como ASTM, DIN ou NBR, podem gerar falhas prematuras, prejuízos e riscos à saúde quando aplicados em setores críticos como alimentício, hospitalar ou arquitetônico.

“Esse caso mostra o quanto o mercado precisa estar atento. Muitas vezes o cliente acredita estar comprando um inox normatizado, mas acaba levando um material que não tem as mesmas propriedades e que compromete totalmente o desempenho esperado”, destacou Vargas.

O relato serve como alerta: aços da série 200, quando não certificados e fora de norma, podem ser confundidos com o 304 por serem igualmente não magnéticos, mas a diferença aparece rapidamente em contato com agentes corrosivos.

O caso reforça a necessidade de rigor na especificação e verificação de materiais. Empresas devem exigir certificados confiáveis, validar normas de referência e, sempre que possível, recorrer a análises laboratoriais antes de colocar seus equipamentos em operação.

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