Falhas no uso de aços série 200 expõem riscos à indústria

Nos últimos anos, a alta no preço do níquel impulsionou a busca por alternativas mais baratas ao tradicional aço inoxidável da série 300 (como o AISI 304). Nesse cenário, ligas da série 200 (Cr-Mn) ganharam espaço no mercado, mas o uso indiscriminado e, muitas vezes, de materiais não normatizados tem resultado em sérios problemas.

A distância e a falta de rastreabilidade dificultam a checagem de qualidade antes do desembarque. Muitas vezes, apenas após a chegada da carga se descobre que os lotes não atendem às normas técnicas, mas já estão no mercado, vendidos como “AISI 201” ou equivalentes.

Tubulação rompida

Um estudo de Chu et al. (2021) relatou o rompimento de uma tubulação fabricada com aço vendido como AISI 201. Após testes laboratoriais, constatou-se que a composição química não correspondia a nenhuma norma internacional. A falha foi causada pelo alto teor de enxofre e fósforo, que acelerou a corrosão e levou ao colapso do sistema

Corrosão prematura em equipamentos alimentícios

Durante a pandemia, algumas indústrias alimentícias adotaram essas ligas mais baratas em substituição ao AISI 304. Contudo, em pouco tempo, clientes passaram a relatar corrosão prematura em equipamentos recém-instalados. Testes revelaram que o material usado não era o AISI 201 normatizado, mas sim uma liga Cr-Mn sem padronização. O resultado foi perda de confiança, custos adicionais e risco à segurança alimentar

Risco à saúde pública

Ensaios simulando contato com alimentos mostraram que esses aços não normatizados liberam níveis até 40 vezes maiores de ferro e manganês em comparação ao AISI 304. Isso não apenas compromete a durabilidade do equipamento, mas também representa um risco potencial de contaminação de alimentos

Lições aprendidas

Os casos reforçam a importância da rastreabilidade e certificação dos materiais. Empresas que confiaram em laudos superficiais enfrentaram prejuízos, enquanto fabricantes que adotaram controle rigoroso da composição química e ensaios de corrosão conseguiram evitar problemas semelhantes.

Para a indústria, a lição é clara: o barato pode sair caro. O uso de inox não normatizado em aplicações críticas, especialmente na área de alimentos e saúde, coloca em risco não apenas a reputação das empresas, mas também a segurança de milhares de pessoas.

Fontes consultadas

As informações apresentadas nesta matéria têm como base a dissertação de Leonardo de Vargas Pellegrini (2022), que analisou casos reais de falhas em aços inoxidáveis da série 200 no Brasil, além de estudos internacionais como o de Chu et al. (2021), que investigou rompimentos de tubulações fabricadas com ligas fora de norma.

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