Presente em cozinhas industriais, hospitais, plataformas de petróleo, edifícios e até em obras de arte, o aço inoxidável — ou simplesmente inox — se tornou indispensável na vida moderna. Mas você já se perguntou como ele chegou ao Brasil e conquistou um papel tão relevante em nossa indústria e no dia a dia das pessoas?
Nesta matéria, o Papo de Inox revisita a história do inox em solo brasileiro, destacando marcos, personagens e transformações que ajudaram a consolidar esse material no país.
Antes de falar sobre a trajetória brasileira, é importante lembrar o que faz do inox um material tão especial. Descoberto em 1913 por Harry Brearley, um metalurgista inglês, o inox revolucionou a metalurgia ao reunir durabilidade, resistência à corrosão e facilidade de limpeza, além de ter um visual moderno e elegante.
Harry Brearley em 1913 descobriu o aço inox
A “receita” é simples na teoria: trata-se de uma liga de ferro com no mínimo 10,5% de cromo. Esse elemento forma uma fina película protetora de óxido de cromo na superfície, capaz de se regenerar em contato com o oxigênio e proteger o material contra a ferrugem. Essa característica ganhou o nome de stainless steel — “aço sem manchas” — que no Brasil se popularizou como aço inoxidável.
Tudo começou quando Brearley foi encarregado de resolver um problema bem específico: os canos das armas de fogo desgastavam-se muito rápido por causa da alta temperatura e da corrosão. Ele decidiu experimentar diferentes composições de aço para encontrar uma liga mais resistente. Durante esses testes, criou uma amostra com cerca de 12% de cromo e percebeu algo curioso: depois de semanas deixada ao ar livre, essa peça não apresentava ferrugem, enquanto as demais estavam todas oxidadas.
Intrigado, Brearley analisou a superfície do metal e descobriu que o cromo formava uma camada invisível e protetora, que impedia a penetração da água e do oxigênio no ferro — os responsáveis pela corrosão. Essa descoberta não só resolveu o problema inicial das armas, como também abriu caminho para aplicações em diversos outros setores. Assim nascia o inox, um material que combinava resistência, higiene e estética, mudando para sempre a história da metalurgia.
O Brasil começou a usar o inox nas décadas de 1930 e 1940, ainda como um material importado e com aplicações bastante pontuais. Ele era restrito a setores que exigiam higiene e resistência à corrosão, como hospitais, laboratórios, indústrias químicas e refinarias de petróleo.
Instrumentos cirúrgicos e equipamentos hospitalares figuram entre as primeiras utilizações do inox por aqui, por sua capacidade de atender aos rigorosos padrões sanitários. Em seguida, a indústria alimentícia e a construção civil descobriram seu potencial.
Foi somente após a Segunda Guerra Mundial que o Brasil deu os primeiros passos rumo à produção própria de aço inox. O ambiente era propício: o governo brasileiro, sob as gestões de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, promoveu uma intensa política de industrialização.
A fundação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) em 1941 e da Companhia Vale do Rio Doce, em 1942, garantiram as bases para a siderurgia no país. Mas a grande virada para o inox veio com a criação da Acesita — Aços Especiais de Itabira — que, nas décadas seguintes, se tornaria sinônimo de inovação no mercado brasileiro de ligas especiais.
Já nos anos 1970, a Acesita deu início à produção em escala industrial de aço inox no Brasil, tornando o material mais acessível e reduzindo a dependência de importações. A democratização do inox abriu espaço para sua aplicação em uma série de novas áreas, como cozinhas industriais, indústria naval e ferroviária, automóveis, arquitetura e design.
A produção local e os avanços tecnológicos permitiram que o inox se tornasse parte do cotidiano do brasileiro. Nas décadas de 1980 e 1990, ele se consolidou em utensílios domésticos, fachadas de edifícios, esculturas e grandes projetos de engenharia.
Na indústria de petróleo e gás, o inox mostrou-se essencial para ambientes marítimos, altamente corrosivos, consolidando sua reputação como material robusto e confiável. Na arquitetura, ganhou status de símbolo de modernidade e sofisticação.
Hoje, a antiga Acesita — atualmente Aperam — é a única fabricante de aço inoxidável do Brasil e de toda a América Latina. O país figura entre os principais consumidores do material na região, com uma cadeia bem estruturada que vai da mineração ao produto final.
Nos últimos anos, a busca por materiais mais sustentáveis reforçou ainda mais a importância do inox. Ele é 100% reciclável, tem alta durabilidade, exige menos manutenção e contribui para reduzir impactos ambientais.
Setores como energia renovável, mobilidade elétrica, construção verde e saúde têm apostado cada vez mais no inox como uma solução sustentável e inteligente para o futuro.
O Brasil se consolidou como um polo estratégico do inox. Grandes obras, hospitais, laboratórios, indústrias e pequenos negócios utilizam o material como peça-chave de suas operações.
Além da Aperam, o mercado é abastecido por uma ampla rede de transformadores e fabricantes especializados que desenvolvem soluções sob medida para atender demandas variadas.
Para apresentar de forma acessível e envolvente a trajetória do inox, o Papo de Inox criou a série especial A Jornada do Inox. Dividida em capítulos, a série mostra todo o processo produtivo do material em solo brasileiro, com imagens exclusivas diretamente da usina da Aperam, em Timóteo (MG).
Além disso, para contar em detalhes a história do inox no Brasil, o Papo de Inox produziu o documentário Museu do Inox, com registros inéditos da Fundação Aperam, que traz os registros oficiais da linha do tempo e das memórias da operação do inox no país.